Ausente do Pico, não consegui estar na Prainha nas comemorações que a Junta de Freguesia promoveu, com o apoio da nossa edilidade (in Revista municipal trimestral srp nº. 26-2012), para assinalar a passagem do 450º aniversário do início da erupção vulcânica da Prainha a 21 de Setembro de 1562.
Foi um dos pontos da nossa história picoense que sempre me atraiu, embora de forma empírica. Conheci bem os mistérios cheios de “urzela branca” – nem tenho a veleidade de a classificar cientificamente – mas é comum aceitar-se que só se dava em ambientes de ar puro.
Era assim entre a Silveira e a Ponta Rasa em São João, entre o São João pequenino e a Terra do Pão, entre São Mateus e Candelária e entre São Miguel Arcanjo e a Prainha de Cima…
Depois quando a Divisão Florestal, sob a orientação dinâmica do Sr. Eng. Zeca Simas, construiu/adaptou uma área no Mistério da Prainha a Zona de Lazer – Parque de Merendas, ali edificando um soberbo Miradouro, passámos a poder apreciar desse local a magnífica chã a seus pés, onde se produziu o Verdelho da Baía de Canas (e não nas “latadas”).
Escreveu então Gaspar Frutuoso:
“(…) em um lameiro arrebentou fogo fazendo cinco bocas muito grandes, sendo uma a principal e a maior, de que manou uma grande ribeira de polme, que correu para a banda do norte por espaço de uma légua e meia até cair da rocha abaixo e fazer um grande cais abaixo da rocha onde se espraiou aquele polme se tornou pedra viva (…)” (fim de citação) e, tudo leva a crer, terá sido aí que surge este baixio, hoje classificado como zona protegida da cultura da paisagem da vinha e no caminho de acesso ao Parque, existe um pequeno quadro alusivo a este tema, mas, infelizmente, cá do Miradouro, currais de vinha não se vislumbra nenhum, apenas uma ou outra parede alta.
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É que essa ideia da protecção da paisagem da cultura da vinha, tem muito que se lhe diga. Nem na Ponta da Ilha (Manhenha e Engrade), nem na Baía de Canas se pode perceber o porquê de um mal disfarçado “esquecimento ou abandono”. Incentivos que não são divulgados? Não isso não, mas talvez outra maneira de abordar a necessidade de se voltar a cultivar a vinha em currais, porque essa é que é a paisagem da cultura da vinha.
Queiram ou não os senhores entendidos nas castas europeias, os incentivos para a reconversão nessas castas, nada tem em paralelo mas sim, até entram em rutura completa com esta tradicional forma de cultivar a vinha – em currais – pois que, a que ora se “incentiva”, a tal “aramada”, eu e muitos outros questionamos desde já quanto ao seu futuro e longevidade.
Voltando ao vulcão da Prainha de 1562, existe um trabalho eloquente e minucioso do Professor Catedrático Dr. João Nunes, que por aqui viveu muitos meses, a estudar a nossa ilha, para a sua tese de doutoramento intitulada “Actividade Vulcânica na ilha do Pico” - http://www.jcnunes.uac.pt/capitulos.htm - e do qual permitimo-nos citar este elucidativo parágrafo:
“Há diversos aspectos relacionados com esta erupção que se desconhecem ou que estão mal referenciados nos documentos antigos: é o caso da existência de vítimas ou de prejuízos elevados. De facto, dados reportados, para além de não se mencionar a morte de pessoas ou animais, não se referem igualmente os potenciais prejuízos causados pela queda de cinzas e pelos “grandes” sismos ocorridos. Com efeito, apenas Fructuoso indica que as escoadas lávicas destruíram diversas “fazendas” (quintas), enquanto que Weston menciona a destruição de milhares de arbustos e árvores de grande porte, incendiadas pelas escoadas lávicas. Macedo fornece importante informação adicional, ao escrever: “tendo devastado (as escoadas) extensas planícies de terras e casas na freguesia de Nossa Senhora d’Ajuda da Prainha do Norte, onde ficou um extenso mysterio, tendo sido destruida a egreja parochial”.”
Certo é que o painel artístico da autoria do jovem artista da nossa ilha - Fábio Mq Vieira, marca de forma digna esta efeméride e aqui deixamos a nossa emotiva homenagem aos anónimos picoenses que de 1562 a 1564, nem duvidamos, sofreram, penaram e pereceram nessas horas de angústia, penúria e de terror, mas sempre com muita fé no Divino… Essa fé que ainda hoje nos acalenta.
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